quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Não paz, mas divisão

Comentário sobre Lucas 12,49-53

O titubeio, a duplicidade, a hipocrisia são tratados de paz com o mundo. Viver em paz, agradar a todos, ser politicamente correto, esteticamente perfeito, embora moralmente contraditório.

Para alguns sujeitos modernos a agradável aparência é melhor que a imagem que gera repúdio, o inescrupuloso é o comportamento típico do pacífico que acorda com os seus inimigos trocando favores. A paz, essa tranquilidade falsa, não pode custar a fé, não pode subjugar a crença. A divisão é a oposição aos contra-valores mundanos que opõem pai contra filho, família contra família, parentes contra si mesmos. A paz, neste caso, é negociar o que se perde para não se dividir, ao passo que a divisão é testificar que o valor é maior que a paz e que a paz não é paz sem os valores.

Jesus não compactua com a índole mundana, ele divide-nos do que nos condiciona, visto que não poderá haver em nós união entre valores e contra-valores, entre verdade e mentira, entre vida e morte, entre graça e pecado. A divisão social se dará diante das oposições geradas pela opção pela vida de Cristo. A pessoa que abraça este seguimento provará sem dúvida hostilidades, inclusive na sua casa entre os seus familiares. A firmeza e a coragem manifestarão esse batismo que divide, que me faz considerar que maior que a paz para com os meus condescendentes é a profissão da minha fé.

A morte é divisão, enquanto o mundo cobra aproveitar a vida a morte separa-nos do mundo, não simplesmente a morte, declínio natural, mas aquela morte na carne para o mundo, a mortificação de si mesmo, que me separa do falso e me une ao verdadeiro.

Em paz poderão viver os tíbios, mas felizes serão os que tomarem para si essas palavras do Salvador e assumirem essa divisão que restitui o valor devido aquilo que é realmente caro: a fé.

O falso cristão é aquele que tenta instituir a paz entre sua fé e a falta de fé do mundo. É o que se contenta em viver bem com todos, em paz com todos, mesmo que isso contrarie valores morais e o que acredita. Esse tipo de vida dúbia pode até existir, e existe mesmo, mas não produz fruto.

A amizade com Deus é inimizade para com o mundo (Tg 4,4), não há como prestar culto a dois senhores, não se pode amar um e servir o outro (Mt 6,24). Essa divisão conota separação da idolatria, como também da amizade para com o mundo.

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