quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O demônio existe?

Comentário de Lucas 11,15-26

O reino de satanás é real, não é uma hipótese nem poderia ser. Os saduceus não acreditavam em anjos e por isso também não criam que o demônio existisse, muito se escuta dizer que Jesus não expulsa demônios, que esse gênero literário da época dele expressava a compreensão que as pessoas tinham para as doenças ou problemas psicológicos que não tinham ainda resposta. Não podemos fazer uma apologia a satanás, mas de fato existe um reino que para Jesus é expulso pelo dedo de Deus. O reino de satanás é o pecado, a morte, não simplesmente a morte humana, mesmo que se saiba que foi pelo demônio que entrou a morte no mundo (Sb 1,13, 2,24). Negar a existência do demônio gera um problema sério: Se satanás não existe então não há inferno, e se não há inferno, também possivelmente, não há salvação. Será que Jesus veio nos salvar de nós mesmos? Então qual a justificativa de rezar o Pai-Nosso, que no seu último pedido clama “livrai-nos do maligno(πονερος)”? Se não existe demônio então para que Jesus foi à mansão dos mortos? O mal existe, isso é fato inegável, ele é uma criatura e atua no mundo por ódio contra Deus e seu Reino em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause graves danos – de natureza espiritual e, indiretamente, até de natureza física (CIC 395).

O mal social, acreditado por muitos como reino de satanás não é necessariamente o seu reino, para além do mal social, aquele que vemos nos países pobres, onde a miséria reina, onde as doenças não são controladas, onde as pessoas não têm acesso a bens de consumo de qualidade, educação eficiente, alimento necessário etc, isso não é reino de satanás, pode ser também, mas a ausência disso não implica na ausência de um reino demoníaco, pois que também onde não há fome satanás pode reinar, assim como onde não há injustiça humana, onde existe qualidade de vida favorável. O reino de satanás é de natureza direta espiritual. Quantos países ricos, onde não há pobreza, onde há habitação para todos e tantos direitos coletivos são supridos, convivendo com indiferença a Deus e seu Reino, que causam danos maiores que fome e miséria, pois para a necessidade se pode dar um fim com a sua satisfação e é assim que pensam os ateístas, mas para a necessidade mais íntima do homem, aquela que não se sacia com nada material, que não finda com comida, bebida, diversão, arte, cultura.

Na Quaresma de 2010 o Papa Bento XVI afirma categoricamente que “a verdadeira justiça é restituir ao homem o que é seu por direito”, fazendo memória a um princípio da justiça, ele mesmo questiona dizendo que “se a justiça é isso” só haverá justiça se ao homem for restituída a sua comunhão com Deus (conf. MENSAGEM DE SUA SANTIDADE O PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2010). Jesus destitui o reino de satanás restituindo o Reino de Deus, que não é a justiça dos homens, é maior, é comunhão, amizade, conhecimento de Deus. As curas que realiza são a vitória da vida contra a morte já na terra, pois o reino de satanás é vencido na terra, devolvendo ao homem sua dignidade de ser semelhante a Deus muito embora ainda o permitindo estar condicionado às sequelas do pecado.

A extensão do tema não permite um breve resumo, com o risco de gerar polêmicas maiores, mas fica claro a existência de dois reinos, um que oprime, não somente socialmente, ou fisicamente, mas antes de tudo espiritualmente, e o verdadeiro reino aquele que liberta, que restitui liberdade, dignidade, que salva, verdadeiramente justo, não necessariamente social, pois no mundo os homens podem se estabelecer socialmente de tal forma que o mal social seja suprimido, mas a casa pode estar limpa, bem varrida e repleta de demônios. É possível que as expressões indiretas do demônios sejam sanadas, mas devemos considerar que se tudo estiver bem arrumado não será por isso que não estará habitado por satanás.

A casa limpa e ajeitada não é pressuposto de liberdade, nem de justiça ou moralidade, pode ser também lugar propício para que vivam reinando oito demônios.

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